A frase mais comum escutada por todos os dentistas é: “Tenho medo de dentista”. Somos vistos como uma figura demoníaca que gosta de fazer as pessoas sentirem dor.
Todos os dias vejo na prática como as pessoas temem o famoso motorzinho ou a carpule (instrumental utilizado para anestesiar). Esse medo provavelmente é explicado porque antigamente os procedimentos executados na odontologia eram muito mutiladores, existiam poucos recursos, os métodos eram muito traumáticos e os instrumentos pareciam ferramentas de tortura.
Esse comportamento emocional foi sendo passado de geração em geração e ainda hoje é muito comum encontrar pessoas apavoradas e com fobias instaladas quando o assunto é ir ao dentista.
Pessoas influenciam as outras e essa influência faz com que se crie uma crença e a certeza de que ela vai ter uma experiência de dor e sofrimento quando for ao dentista mesmo que ela não nunca tenha ido ao dentista. Da mesma forma que podemos influenciar a experiência que o paciente tem com o atendimento odontológico, é possível proporcionar ao paciente uma experiência positiva e mostrar que aquela imagem que ele tem do dentista está distorcida.
O medo é uma emoção, ou seja, a pessoa não escolhe ter ou não ter medo. Claro ela pode controlar esse medo, mas ele estará sempre ali até que ela ressignifique através de uma experiência positiva e passe a enxergar com outros olhos a experiência do atendimento odontológico.
Mas, por que temos medo do barulho do motor? É só mais um barulho como tantos outros barulhos que ouvimos cotidianamente.
Quando experimentamos a dor, a mente cria um registro daquela informação e a transforma em uma experiência. Assim, toda vez que nos deparamos novamente com um evento parecido a mente cria o medo como um recurso de proteção.
Essa identificação que dispara o medo é feita através de pistas que podem ser visuais, olfativas ou cinestésicas e é por isso que quando escutamos o barulho do motor sentimos medo. A mente fez uma associação do barulho com a dor ou momento de tensão. A próxima vez que ela ouvir esse barulho automaticamente ela sentirá o medo. É como se a mente “falasse” para seu corpo assim: FUJA QUANDO OUVIR ESSE BARULHO.
Essa é uma resposta automática e é por isso que as pessoas têm dificuldade de controlar: muitos até choram ao ver o dentista ou ouvir o famoso barulhinho. O mesmo acontecer quando sentimos um cheiro de um perfume ou ouvimos uma música e lembramos que alguém.
Na minha rotina de atendimento não é diferente, mas trabalhar com esse medo é ainda mais desafiador porque trabalhamos na maior parte dos casos com o paciente que possui alteração cognitiva. Então ele sente o medo, mas não consegue entender e controlar esse medo porque sua consciência está alterada. A resposta desses pacientes é ficarem agressivos, não colaborativos e até fugirem do atendimento.
Algumas orientações que podem ajudar a não criar esse momento de tensão no seu familiar, sendo idoso ou não:
1° - Procure não avisar com muita antecedência o atendimento odontológico
2° - Evite contar suas experiências negativas como dentista para o paciente
3° - Evite usar a palavra dor, como por exemplo “Fique tranquilo não vai doer”. A mente acaba processando o comando de forma positiva. É o mesmo que eu falar para você: – Não pense em um elefante azul – aposto que pensou
4° - Procure usar do reforço positivo procurando entender o que ele gosta e o que pode ser feito depois do atendimento e que pode ajudar a estimulá-lo a ir para o atendimento e cooperar. Por exemplo: “depois do atendimento vamos à missa”
5° - Evite sinalizar pistas visuais, como por exemplo: “O Sr. ou Sra. está ouvindo esse barulho? Então, vem do dentista”
6° - Utilize palavras que reforçam um estado positivo, como por exemplo seguro e tranquilo. “Sempre que vou ao dentista me sinto segura e tranquila”
7° - No final do atendimento elogie e reforce para o paciente que foi uma experiência boa. “Parabéns você foi até o fim. Viu como foi tranquilo, da próxima vez será da mesma forma”
Comments